Quem era o cantor Antônio Marcos? Ele era um garoto que cresceu no subúrbio paulistano, soltando pipas e brincando nas estreitas vielas de sua vila. Corria de um lado para o outro, assim como outros moleques das ruas de um bairro operário no leste da cidade, durante as décadas de 1940 e 1950. Um dia ele cresceu, tornou-se um homem, e seu talento superou as fronteiras da cidade.

Conquistou o Brasil, a fama, as mulheres bonitas e milhões de fãs que suspiram ao ouvir sua voz, que traduz em letras e melodias todos os seus amores, conflitos e sentimentos. Ele era carismático, uma boa companhia, um conquistador com ar de galã, que adorava conversar em botequins com seus amigos.

Porém, um dia esse mesmo garoto que se tornou homem e conquistou o Brasil, seguiu um caminho que parece saído de um roteiro de filme de sucesso em Hollywood: fama, angústia, alcoolismo e morte.

Parece um roteiro de filme, mas essa é a história do cantor Antônio Marcos, nascido em 8 de novembro de 1945 em São Miguel Paulista, região localizada no extremo leste da cidade de São Paulo. Ele foi um dos filhos mais ilustres da cidade e nunca esqueceu suas origens, pois sua história está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento, ascensão e decadência de São Miguel Paulista, tendo como figura de fundo a companhia Nitro Química do Brasil, indústria que trouxe desenvolvimento para o bairro e também foi responsável pelo nascimento de uma grande estrela.

A História de Antônio Marcos: da infância humilde em São Miguel Paulista ao estrelato da música brasileira

Antônio Marcos, no início da década de 1960, estava em plena adolescência e cheio de energia, participando de shows de calouros no Clube de Regatas da Nitro, que eram realizados nos finais de semana e uma das principais opções de lazer para os moradores e operários da empresa. Foi em um desses shows, organizado e comandado por Albertino Nobre, que o mundo começou a conhecer a voz e o carisma do cantor Antônio Marcos, ou Toninho, como era carinhosamente chamado pelos seus amigos. Ele era um homem que tinha poesia até no nome, Antônio Marcos Pensamento da Silva.

Nascido em uma família humilde, ele era filho de um pai poeta, um dos primeiros incentivadores de sua carreira, e de uma mãe compositora, Dona Eunice Barbosa, responsável por belíssimas canções imortalizadas nas vozes de Jessé, Roberto Carlos e Nelson Ned.

Com um DNA artístico e poético tão forte, a escalada para o sucesso foi inevitável, apesar das barreiras e da distância de São Miguel Paulista para os grandes centros e das dificuldades de locomoção na época, quando os trens eram o principal meio de transporte público.

Nascendo uma estrela

Em uma de suas apresentações como calouro do Clube de Regatas da Nitro, estava presente entre os jurados Magno Salerno, então produtor da antiga TV Tupi, que encantado com o talento de Antônio Marcos, o convidou para a sua primeira participação em um programa de televisão. Nesse momento, o céu era o limite para uma carreira meteórica e brilhante daquele garoto nascido em família humilde no extremo leste, que chegava ao centro do universo.

Entre os anos de 1960 e 1962, toda a versatilidade de Antônio Marcos foi posta à prova e ele não titubeou, tornando-se um dos destaques do programa de rádio de Estevam Sangirardi.

Em 1967, já integrante da banda “Os Iguais”, gravou seu primeiro disco, mas foi em 1968, em sua carreira solo, que embalsamou corações apaixonados com a música “Tenho um amor melhor que o seu”, ganhando de vez os louros da fama. A música é de autoria de Roberto Carlos, mas caiu como uma luva em sua voz, sendo uma das mais ouvidas daquele ano e lembrada até hoje pelos seus fãs.

Depois disso, tudo foi muito rápido na vida de Antônio Marcos. Ele teve quatro casamentos, sendo dois emblemáticos com musas de sua época, a cantora Vanusa e a atriz Débora Duarte. Vieram também diversos sucessos, participações em filmes, novelas, programas de TV, rádio, shows em Nova York, capa de revistas, entre outros.

Mas nem tudo são flores na vida desse astro. Ele teve uma delicada relação com o alcoolismo, doença que foi minando toda sua energia e apagando o brilho. E assim, uma das maiores estrelas nascidas em São Miguel Paulista teve um triste desfecho no dia 5 de abril de 1992. Vítima de uma parada cardiorrespiratória devido a complicações renais, às 22 horas, morria aos 46 anos um mito de São Miguel Paulista e nascia uma lenda. Um garoto do subúrbio paulistano que cresceu soltando pipas, brincando no meio do mato, comprando doces na venda próxima de sua casa, sonhou cantar como Elvis Presley, cresceu, soltou sua voz, conquistou corações e deixou saudades na memória de milhões de fãs espalhados por todo o Brasil.