Do Canal 90 ao Nerdshow, continuo sozinho

“Sentir-se só, como um pássaro voando, isolado como se estivesse em um bando”. Estes são versos de uma música dos Engenheiros do Hawaii, gravada no final dos anos 80 e início dos anos 90. Naquela época, a Internet ainda era vista por muitos como ficção científica, não imaginando a dimensão que alcançaria nos dias de hoje.

A nostalgia doa anos 80 e 90

Luis Henrique sempre viveu em Belo Horizonte e, como toda criança dos anos 80, adorava futebol, carrinho de rolimã, peão, bolinha de gude, figurinha de jogadores, policia e ladrão, entre outros.

Um dia, ao chegar ao campinho de futebol, que ficava próximo a um brejo habitado por uma multidão de sapos, Luiz Henrique ficou surpreso. Naquele dia de sol escaldante e poucas nuvens no céu, não havia uma única criança no campo, nem mesmo marcas de Kichute na terra. Onde estaria toda a criançada da vila? Ele se questiona até que um garotinho correndo apressado aparece para contar a novidade.

Mas que novidade era essa? Luiz Henrique se pergunta novamente. Era uma caixinha preta feita de plástico, hoje um objeto obsoleto de museu, mas na época, uma epidemia chamada Atari. O videogame dos anos 80, precursor de muitos jogos atuais. A garotada e adultos passavam horas em frente à TV, não para assistir programas televisivos, mas para jogar algo artificial. Uma inovação que revolucionou a história dos videogames, criando a necessidade de levar o fliperama para casa.

River Raid, Hero, Jungle Hunt, Enduro, Pitfall, Pac Man, Moon Patrol, Missile Command, Demon Attack – quem não se lembra desses jogos? As pessoas se amontoavam na sala do Zequinha, o único a ter o Atari na época, com TV colorida, autorama, e muito mais.

Video game Atari e crianças jogando bola de Kichute
Video game Atari e crianças jogando bola de Kichute

Apenas um Nerdshow

Luiz Henrique, sonhando em ser ponta direita do Cruzeiro, odiava o Atari e dizia: “Como podem trocar a bola por um joguinho com um som péssimo e sem graça?” Naquela época, ele parecia ser o único a não ver graça naquilo, e o campo de futebol nunca mais foi o mesmo.

No entanto, Luiz continuava sozinho, todas as tardes chegava da escola, trocava o uniforme e colocava o Kichute, pegava sua bola e passava horas jogando, perseguindo seu sonho de ser ponta direita, embora não soubesse exatamente o que isso significava.

Em um dia desanimado, chegou em casa e disse ao pai: “Se continuar assim, para onde esse mundo vai!” Hoje, ele não é um jogador famoso. Mudou-se para São Paulo, tornou-se bancário e vê seus filhos passarem horas jogando jogos online, cada um por conta própria.

Este é o verdadeiro significado da frase “Estar só, como um pássaro voando, estar só como se voasse em bando…”. Este não é um texto nostálgico; ele aborda a solidão contemporânea, uma solidão coletiva, que só percebemos ao olhar para trás e entender seu início.