Ecoturismo: qual a importância do turismo sustentável no Brasil?

O que é o turismo sustentável e qual é a sua importância? Ecoturismo é uma modalidade do turismo que respeita e se preocupa com a integração da população nativa. O Ecoturismo usa racionalmente os recursos disponíveis de forma sustentável. É seguro tanto às pessoas envolvidas quanto ao ecossistema em questão e garante a sustentabilidade econômica, social e ecológica de uma região.

O Ecoturismo deve ser fomentador da preservação da diversidade sócio-cultural e ambiental do país. Talvez essas definições sobre o que é ecoturismo e como deve ser um turismo de sustentabilidade fica muito vago e pode confundir um turista ou consumidor a comprar algo com o rótulo de ecoturismo e na verdade o turista pode contribuir de forma involuntária para a degradação do meio ambiente e dos recursos naturais.

Qual é a importância de existir um turismo sustentável?

Entrevista por Denis Rodrigues
Para observar o panorama do Turismo Nacional com um olhar científico e ao mesmo tempo social – sem perder o encanto e respeito pela vida – é preciso mais do que dedicação e talento: é preciso coração.

Por isso é fato: se você buscar o âmago do Turismo Sustentável no Brasil, chegará a Sérgio Salvati. O biólogo que, a partir de um trabalho como guia ecológico, deslumbrou com as possibilidades do Turismo e se tornou um dos maiores atores da preservação de destinos do País.

Biólogo,Escritor,Mestre em Integração da América Latina (com ênfase em Turismo Sustentável) pela USP, Cantor de Blues, Professor Universitário e Consultor, Salvati também traz no currículo a Coordenação de Programas de Turismo e Meio Ambiente para o WWF-Brasil e de Pós-graduação em Turismo Sustentável para o Senac.

Batemos um papo com “o homem”, conversa que você confere a seguir:

Sérgio Salazar Salvati, biólogo, mestre em Turismo Sustentável pela Universidade de São Paulo -USP
Sérgio Salazar Salvati, biólogo, mestre em Turismo Sustentável pela Universidade de São Paulo -USP

Você teve um envolvimento com a WWF, não?

Salvati: Fiquei cinco anos trabalhando na WWF, gerenciando programas de Turismo. Eu tinha dois projetos na Amazônia, um em Rondônia, um em Fernando de Noronha, um Chapada dos Veadeiros, um no Vale do Ribeiro e dois no Pantanal.

Eram projetos vinculados à unidade de conservação ou em torno das unidades de conservação, que era uma preocupação do WWF, uma entidade ambientalista que usava o Turismo para ajudar na conservação da Natureza.

Era um trabalho que envolvia as comunidades, belíssimas paisagens e foi uma fase muito importante onde aprendi muito. Era uma coisa bem Ecoturismo mesmo – Turismo voltado para a conservação, diferente do Turismo Sustentável, que pretende ser mais responsável, mais verde e não chega a ser o Ecoturismo.

É uma tendência nova no turismo ou já existia e agora houve um “boom”?

De fato há uma tendência. O mercado consumidor começa a exigir algo nesse sentido. Na Europa e EUA é mais exigente, enquanto aqui o pessoal ainda está no tripé “preço, conforto e qualidade de serviço” e ainda não está tão atento aos fatores sociais e ambientais. Mas a questão da sustentabilidade, não só no Turismo como também em outros setores, está cada dia mais presente.

Agora, dizer que isso não existia é difícil dizer porque todos aqueles que fazem Turismo que chamamos de “brando”, que é um turismo de pequenos grupos, uma pousada que não desmatou nada para ser construída, trabalha com lixo, contrata pessoas da localidade ou apoiar alguma ação ambiental pode ser incluída em Turismo Sustentável e, às vezes, você encontra uma pousada que faz isso há quarenta anos.

O Turismo Ecológico naturalmente tem uma maior preocupação ambiental, as outras tem em função de seus negócios: O Turismo de Aventura que vai fazer a atividade em uma rocha, se não cuidar daquela rocha, vai perder o negócio dela.

Há a intenção de praticar um Turismo Sustentável, mas as pessoas geralmente não sabem como fazer isso, isso implica em impacto quando acontece a visita?

Sim, acontece o impacto tanto com a visita de grupos pequenos quanto com a visita em massa. Não é necessário ter um grupo grande para ter impacto.

Por exemplo, em uma igreja com 15 mil visitantes por mês e um deles vai lá e destrói um afresco, uma escultura… na natureza é a mesma coisa: Pode-se ter cem pessoas muito bem educadas e conscientes em uma trilha causando o impacto somente de pisoteio ou coisa parecida, mas uma pessoa pode causar um impacto muito maior, matando um animal, por exemplo.

Mas, é óbvio que se a operadora tomar seus cuidados, como criar passeios com grupos reduzidos, tentar conhecer um pouco o ambiente antes de levar os outros para lá, solicitando um especialista para avaliar como é o solo, se tem algum animal em extinção pela região, os danos podem ser diminuídos ou evitados.

Isso é uma coisa sutil, não é? Um pássaro costuma se reproduzir ali e começa a ter um fluxo maior de pessoas, isso o faria se afastar.

Isso. Ou ele poderia se afastar naturalmente e se deslocar para um lugar mais quieto por conta do fluxo de pessoas naquela região. Nós não podemos também gerar um ecoterrorismo dizendo que não se pode entrar em uma área natural.

Acho também que a natureza tem uma capacidade muito grande de resistir, o que chamamos de resiliência. Eu mesmo falo isso com bastante propriedade porque já fui um “eco-chato”, um “eco –xiita”, um cara que implicava com todo mundo.

Na própria fase do WWF eu era bastante crítico. Hoje eu procuro ponderar um pouco mais, procuro orientar e gerar mais informação ao invés de ficar só reclamando e criticando. Já que tem gente fazendo coisa errada, vamos mostrar como é que se faz da forma certa.

A partir daí, começamos a soltar publicações. Soltamos o Manual do Ecoturismo, soltamos um livro sobre certificação do turismo, um livro sobre trilhas e parques, enfim. Estamos a fim de mostrar e não ficar somente levantando a bandeira de que está tudo errado. Queremos dizer realmente como fazer o certo. Para alertar as empresas, enfim.

Você pode citar os nomes desses livros e dessas publicações?

Sim. O “Manual de ecoturismo” do WWF de 2003, o livro “Certificação do Turismo” de 2001, o livro “O uso recreativo no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha” que é de 2002 e “O Turismo Responsável: Manual para políticas locais” que é voltado para as prefeituras e municípios de 2004. São todos de minha autoria.

 Mas agora eu queria que você falasse um pouco sobre você, agora. De sua formação, suas experiências, os pontos mais importantes, os trabalhos mais interessantes que você já produziu ou está produzindo…

Sou formado em biologia, pela Unesp de Botucatu ̧ nunca quis trabalhar somente dando aula ou em laboratório, sempre quis ir para campo.

Comecei a trabalhar com estudo de impacto ambiental, trabalhei um pouco com legislação e tive uma experiência com turismo na Fazenda Caimã, em 1991.

Depois, entrei em um Mestrado na USP para trabalhar com Turismo Sustentável e as portas se abriram. Comecei a dar aula em faculdades de turismo que tratavam de turismo e meio ambiente, foi aí que tive o contato com a WWF.

Nesse tempo aprendi muito, ganhei uma certa posição nacional, ao mesmo tempo que comecei a dar aula em cursos de pós-graduação em turismo. Saindo do WWF, coordenei o projeto Ecoturismo na Mata Atlântica, investimento da Secretaria de Estado e Meio Ambiente de 15 milhões de dólares. Sempre participei de consultorias em Turismo Sustentável e em acessibilidade no turismo.

Quais os principais destinos para quem gosta e precisa conhecer?

Fernando de Noronha, onde o turismo ainda é de baixo impacto; Mamirauá, na Amazônia; Bonito, existem bons exemplos por lá; Serras Gaúchas, que naturalmente fazem o turismo naturalmente brando, bastante responsável; litoral do Ceará, especificamente na praia de canto verde, temos o turismo de base comunitária desenvolvendo bastante as comunidades; A região de Silves, na Amazônia; O parque do Iguaçu; Os Lençóis Maranhenses.

Em alguns parques você tem uma possibilidade de visita bastante responsável, apesar de que falha um pouco em infraestrutura, mas isso não te impede de fazer uma visita com qualidade ambiental.

Podemos ainda citar o Jalapão, em Tocantins, que é ainda um lugar muito interessante para conhecer. Na Bahia existem vários lugares como a Chapada Diamantina ou mesmo no litoral, onde conseguimos encontrar bons exemplos de Turismo Sustentável.

Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros está localizado no nordeste do Estado de Goiás. Imagem: Wikimedia Commons

E para quem quer estudar turismo…

Para quem quer estudar, acredito que há 2 caminhos: partir para o turismo através de uma profissão que já tenha e que tenha interesse no turismo, como por exemplo arquitetura, que pode trabalhar com arquitetura de edificações turísticas, portais, pousadas ou engenheiro, que funciona da mesma forma; como biólogo em estudos de impacto ambiental, estudos de levantamento de trilhas…

As pessoas que trabalham em outras áreas, sem ser o turismo, podem também trabalhar com turismo. Sendo recomendado fazer uma especialização. Ou então estudar mesmo o turismo e procurar se especializar em alguma área do turismo para poder se dar bem no mercado.

O turismo mexe bastante com a economia, de modo geral. Então existem oportunidades para todas as carreiras.

Você, como biólogo e cientista, acredita no aquecimento global acelerado causado pelo homem? E o que você tem a dizer sobre essas previsões de cientistas que dizem que as praias, como nós as conhecemos hoje, correm o risco de acabar?

Eu acredito sim que de fato o planeta está aquecendo. Essa camada de gás carbônico que está cobrindo o planeta Terra está impedindo de sair o calor que a Terra recebe do sol, e esse calor tem-se dissipado de volta para a natureza.

Essa teoria de que os trechos litorâneos das cidades de todos os países do mundo serão inundados, é bastante factível, pois temos uma quantidade de gelo gigantesca na Antártica.

Naquelas geleiras estão 98% da água doce do mundo. Se acontecer mesmo de essas geleiras derreterem e toda essa água ir para os oceanos, não só as regiões litorâneas, mas até países inteiros podem vir a desaparecer.

A Holanda e a Bélgica, que são países baixos, podem vir a sofrer muito. O lado mal, obviamente, será pior porque as tais mudanças climáticas afetam a agricultura, o cotidiano das pessoas com mais calor, mais chuva, mais frio, enfim, a mudança climática como um todo.

Isso afeta o mundo todo e o turismo também. Essas mudanças não são boas para o mundo e o turismo tem que contribuir para evitar que isso aconteça.

Mais importante ainda é que, como o turismo mexe muito com pessoas, ele tem que tentar conscientizá-las e fazer com que elas também voltem para suas casas e contribuam para a conscientização. Na hora de fazer suas compras, na hora de comprar um carro, na hora de consumir viagens, enfim. É realmente bastante preocupante.

*Entrevista por Denis Rodrigues
*Colaborou: Camila Luvizuti
*Entrevista originalmente publicada no site Futurismo

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